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Entrevista: Como ser um bom mecânico

Em um bate papo exclusivo, o presidente do Sindirepa-SP, Antonio Carlos Fiola, fala da importância do treinamento, da atualização e da versatilidade para ser um bom mecânico, sem deixar de lado a excelência em atendimento e a organização

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Revista O Mecânico: Qual o número de oficinas mecânicas formalizadas no Estado de São Paulo? E no Brasil?
Antônio Carlos Fiola: Atualmente, temos no Estado o total de 14 mil oficinas contribuintes, sendo 2 mil associadas. No Brasil, o número de estabelecimentos de reparação chega a 87.804, número registrado até 2009, enquanto o número de empregos é de 687,5 mil. Esses dados não incluem a rede de distribuição das montadoras (concessionárias).

O Mecânico: Em sua opinião, o nosso mercado está aquecido? Por quê? Qual o faturamento do nosso setor em São Paulo?
Fiola: Nosso mercado está bastante aquecido, em primeiro lugar, por conta da expansão da frota e dos carros carros que estão saindo da garantia; em segundo, pela obrigatoriedade da inspeção veicular ambiental, e pela própria conscientização do motorista, com a ajuda da campanha Carro 100%. O faturamento das oficinas até o final de 2009 foi de R$ 23,5 bilhões.

O Mecânico: O que uma oficina precisa para ser uma associada? Qual o valor da mensalidade e quais os benefícios?
Fiola: Para ser um associado, o empresário precisa ter CNPJ e vontade de crescer. O valor é de R$60,00 por mês e as vantagens são muitas, como descontos em produtos e softwares; convênio médico; cursos no SENAI e outros treinamentos em geral; assistência jurídica; representatividade política, junto ao poder público e à FIESP; acesso ao CDI (Centro de Documentações e Informações), a Revista O Mecânico, que todos os associados recebem sem custos, e outros quesitos do setor.

O Mecânico: As certificações são realmente essenciais para o sucesso do negócio?
Fiola: Toda certificação vai além do certificado, acaba sendo um processo. O empresário tem que se preparar com para conquistar e depois dar continuidade. É uma grande atitude que vai no futuro gerar a melhora do mercado. Me arriscaria dizer que é sim um processo de qualidade, pois para cumprir os requisitos de uma auditoria tem que manter a oficina organizada, atendimento de primeira e profissionais capacitados. Na minha oficina, temos certificação do IQA e do Cesvi, por exemplo.

O Mecânico: E quanto às normas ABNT, qual a importância? Onde o mecânico consegue? Custam caro?
Fiola: A utilização das normas na oficina é absolutamente necessária, uma das poucas obrigações legais para seguir o processo de reparação com segurança, qualidade e garantia, inclusive em questões judiciais. Essa é uma questão importante, que não tem o custo muito alto, muitas são até de graça, mas imprescindíveis. As normas podem ser conseguidas no site da ABNT (www.abnt.org.br), do Sindirepa-SP (www.oficinadeveiculos.com.br) e do SEBRAE (www.sebrae.com.br).

O Mecânico: O que o empresário precisa para ter o mínimo em sua oficina e trabalhar bem?
Fiola: Tudo depende do que ele pretende em fazer, ou seja, do ramo em que ele atuar. O ideal é ter uma boa política de treinamento para ele e para os seus mecânicos, área de atuação bem definida, orçamentos bem elaborados e prestar bons serviços e um atendimento de excelência. Certamente vai precisar também das ferramentas adequadas para a realização do serviço, peças de boas marcas, garantia do serviço e profissionais capacitados. Estamos passando por mudanças em vários setores da sociedade, na reparação não é diferente. O cliente está mais exigente e a concorrência é acirrada.

O Mecânico: A questão da garantia de peças gera muita polêmica, principalmente, por conta das peças mais caras, que não são trocadas quando aparecem problemas. Como deve ser a postura do mecânico?
Fiola: O primeiro passo é saber que peça está comprando, por isso é imprescindível utilizar produtos de bons fornecedores. E o varejista tem que ajudar na hora de conseguir a garantia, ou seja, repõe a peça depois discute se tem algum problema ou não. Além disso, tem que tomar muito cuidado na hora da aplicação, para não causar nenhum dano à peça.

O Mecânico: Em relação às peças: genuínas ou originais? Quais as diferenças entre essas duas peças em relação à qualidade do serviço?
Fiola: A peça que vai para a rede de concessionárias e para o mercado de reposição independente é a mesma. Uma indústria sistemista jamais vai fazer uma peça de segunda linha para vender para o independente, tanto que a garantia é a mesma para os dois casos. Mais uma vez é bom reforçar: genuína ou original não importa, contanto que seja de bons fornecedores.

O Mecânico: Existe muita demora para entrega de peças?
Fiola: A maioria das peças faltantes são peças cativas e latarias, que só a montadora tem.

O Mecânico: Qual a sua dica para o mecânico em relação às peças piratas paralelas ou recondicionadas?
Fiola: É muito importante falar sobre isso, pois a responsabilidade sobre a aplicação de peças no carro do cliente é do mecânico. Ele é que tem que discernir se a peça é boa ou não, é uma responsabilidade civil pela vida da pessoa. Além disso, aplicar um produto de baixa qualidade gera retrabalho, e tempo é dinheiro numa oficina. Muitas vezes por conta desse tipo de peça, o mecânico tem que fazer o mesmo serviço duas vezes e perde o valor da mão de obra. Uma das maneiras de identificar peças piratas é pelo preço, desconfie de produtos muito baratos.

O Mecânico: Muitas vezes o próprio cliente pede essas peças por serem mais baratas, o que fazer?
Fiola: Juridicamente, tem que fazer um termo de responsabilidade e pedir para o cliente assinar, dizendo que está consciente que a peça é recondicionada e não oferece garantia. Essa é a única maneira do mecânico se resguardar.

O Mecânico: Outro mercado que vem se destacando é o de peças remanufaturadas, essas têm garantia de fábrica. Valem a pena?
Fiola: Sim, as peças remanufaturadas pela fábrica com garantia são opções mais em conta para o serviço. Dessa peça o mecânico pode dar a garantia do serviço.

O Mecânico: A inspeção ambiental agora abrange todos os carros e está sendo estendida para outros estados, o que teoricamente traz benefícios para o mecânico. Mas como ele tem que se preparar para isso?
Fiola: Um bom analisador de gases e um bom programa de manutenção preventiva para os clientes. Algumas empresas têm softwares que avisam quando o veículo precisa de reparo e em qual sistema, o que sai até mais barato para o cliente, que pode se programar para a manutenção. Esse seria o ideal. O reparador que tem essa cultura vai ter trabalho sempre e o cliente vai ter sempre o carro em ordem.

O Mecânico: Todo mundo sabe que treinamento é importante. Mas o mecânico que tem mais conhecimento, ganha mais?
Fiola: Sim, ganha mais porque consegue estar mais preparado para arrumar mais carros, fazer diagnósticos mais rápidos. A oficina vai faturar mais e isso vai reverter para ele também. Hoje alguns mecânicos ganham comissão por serviço prestado, ou seja, o mais preparado pode fazer mais trabalhos. Um mecânico em média ganha na faixa de R$1.300,00 em São Paulo, mas esse valor pode ultrapassar os R$3.000,00 dependendo da experiência, do conhecimento e do seu rendimento. Sua performance pessoal influi muito nesse sentido: atender bem, ser versátil e organizado.

O Mecânico: Qual o piso salarial do reparador?
Fiola: O valor é de R$ 792,00 para os mecânicos atendidos pela CUT e de R$ 797,00 aos segurados pela Força Sindical. Ou seja, a média é de R$ 795,00.

O Mecânico: Cursos básicos e de atualização, como os do SENAI, devem ser pagos pelo patrão?
Fiola: Não, deve ser pago meio a meio, em minha opinião. Desde que previamente estabelecido por ambas as partes.

O Mecânico: Onde buscar informações técnicas?
Fiola: Em publicações como O Mecânico, nos balcões de peças, junto aos fabricantes e aos grupos de oficinas. Além disso, o Sindirepa-SP coloca a disposição dos associados o CDI, uma rica biblioteca técnica.

O Mecânico: O mercado mudou nos últimos 20 anos, hoje em dia qual é o perfil do mecânico ideal, em sua opinião?
Fiola: O mecânico ideal é aquele profissional atento à tecnologia, sem esquecer o funcionamento dos carros menos tecnológicos. O bom mecânico é aquele que se atualiza e é versátil, sabe dirigir, consertar e delegar funções. Entende de mecânica, elétrica e informática. Está sempre uniformizado e trabalha num ambiente limpo e organizado, além disso, sabe ouvir o defeito do carro e passa para o cliente as informações de uma maneira simples. Esse é o mecânico que tem futuro e vai ter sucesso sempre.

5 comentários em “Entrevista: Como ser um bom mecânico

  1. o empresário entrevistado quer ter um profissional de ponta, segundo as competências que ele elencou, e quer pagar só 1.300 reais. Chega a ser ridículo o quanto o empresário desvaloriza sua força de trabalho.

  2. o empresário entrevistado quer ter um profissional de ponta, segundo as competências que ele elencou, e quer pagar só 1.300 reais. Chega a ser ridículo o quanto o empresário desvaloriza sua força de trabalho.

  3. Olha, eu queria trabalhar na área e sou intuziasta por diagnósticos de motores, entretanto acho muito mal remunerada essa profissão. Os caras preferem colocar uma roda bonita no carro do que investir na manuteção preventiva. Ai vem a pergunta: Compensa fazer diversos cursos, além de ser um bom mecânico???? 1300 reais de salário???

  4. Muito boa esta entrevista do Fiola, no entanto, não são todos que apreciam a realidade das oficinas em tecnologias, avanços no tratamentos à clientes.
    No meu caso, trabalho com clientes segundo o problema imediato do seu veículo, não como em auto center que se busca vender serviços e peças e até apelando para seu psicológico em colocar ‘pânico’ para que este execute o serviço onerando seu orçamento financeiro. Assim, digo o cliente não é só uma venda, quem tem coração não tem comissão. Portanto gostaria de saber que profissionais dedicados são movidos a barulho do motor e solucionador de defeitos e dar satisfação ao cliente, aí o sucesso é natural e o ganho virá junto.

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